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domingo, 4 de julho de 2010


O dia que o Brasil perdeu a Copa de 2010


Contistas dão suas versões para o dia que abalou o futebol mundial: o fracasso do selecionado canarinho na Copa do Mundo da África

Depois que paguei a última prestação da geladeira eu pensei: agora vou fazer economia para comprar a TV de plasma, para assistir à Copa do Mundo da África do Sul. Afinal, Copa é Copa, uma emoção que só dá de quatro em quatro anos e pra quem já ta ficando assim mais pra lá do que pra cá como eu, pode até ser a última.

A geladeira na verdade eu só comprei porque eu vi o presidente Lula dizendo que quem comprasse geladeira nova tava ajudando o país sair da presepada dos homens dos States, para garantir que a tsunami lá deles chegasse aqui só a marolinha. Mas se entendi bem, eu estava ajudando também o governo economizar energia, pois segundo o presidente geladeira nova tem o canudinho bem mais fino na hora de beber energia.

E se entendi essa parte também, se a gente economiza energia, o governo não precisa cuidar logo de construir usinas novas nem reformar as velhas e sobra dinheiro pra dar uma engordada nas bolsas disso nas bolsas daquilo, essas coisas que fazem pobre rir à toa, do jeito de rico. Sem contar que com uma geladeira que gasta a metade da energia, com o mesmo desempenho, em um ano ou dois tenho a geladeira de graça, considerando o favorecimento na conta de luz.

Viu só que beleza! Em um ano ou dois, segundo a orientação do iluminado presidente Lula, eu tenho uma geladeira com um ou dois anos de uso, de grátis, e me livro daquele trambolho velho, que agora confesso, já tava produzindo gelo por fora que até levou meu primo, que é gozador e gosta de filar uma cervejinha em minha casa, a me cornetar. Ele me falou: Essa geladeira sua é marca GE? Eu disse: Não. É daquela que é das melhores de boa. Eu pensei que era GE, ele insistiu. Por que GE, eu quis saber. Porque ela tem Gelo Externo, rarará!

Aí juntei tudo; o sono e vontade de dormir. A sabedoria do presidente Lula, mais a gozação do meu primo aproveitador e troquei a geladeira, por uma novinha de dar inveja na vizinhança!

Mas eu fiz as contas. Queria terminar de pagar a geladeira pelo menos 6 meses antes do mês da Copa. É que eu queria fazer 6 meses de economia para dar uma entrada maluca na TV de plasma e financiar em mais 6 meses. Afinal eu queria ligar minhas coisas ao número 6. Pois é dessa vez que eu espero, eu espero não, todo mundo espera e torce que o Brasil seja hexa. Só não entendo porque hexa, se o Brasil é pra ser campeão pela sexta vez. O certo não seria sexa? Pois é agora que o Brasil, sil, sil, sil, labuta pra ser o sexa campeão do mundo eu queria engatar minhas coisas tudo ao número 6 pra eu ficar sexa igual o meu Brasil, sil, sil, sil e lhe dar sorte.

Cheguei na loja e falei pro vendedor que eu queria uma TV de sessenta e seis polegadas e ele olhou pra mim e viu que eu não tinha porte para uma TV tão parruda e ele quis saber por que eu estava querendo uma TV assim tão grande e antes que eu respondesse ele me foi cobrindo de perguntas se eu tinha uma sala tão grande para assistir uma TV daquela. Eu vi que ele perguntou de chacota porque era só olhar pra mim e ver que sou um camarada espremido, sem costume de ocupar o conforto de salas espaçosas. Bastava olhar pra minha cara que é amassada de tanto habitar lugares pequenos. É só olhar pra minha pele pra ver que sou encardido pela minha condição de viver mais no terreiro da casa do que dentro, porque dentro não tem espaço para abrigar a família inteira, estando todo mundo acordado.

Mas ele quis perguntar e perguntou. Sei que é por desaforo. Mas eu relevo. O que menos quero nesta vida é encrenca. Quero mesmo é uma TV de plasma, com a entrada de sessenta por cento, o resto dividido em seis meses. Ah, que tenha o tamanho de sessenta e seis polegadas, para o Brasil ganhar o sexa.

Mas o vendedor era danado e não se deixou vencer pelo impasse que se anunciava. Onde já se viu um pé de chinelo chegar assim do nada e levar uma TV de plasma de sessenta e seis polegadas? Logo ele arrumou uma saída numeral maneira, já que o meu negócio era atrelar tudo ao número 6 do sexa do Brasil. Sugiro pra você, ele falou, uma TV de trinta e duas polegadas. Onde é que entra o 6? Eu disse. Ora, ora, ele alegou, todo sapeca, é só multiplicar o número três pelo número dois e você obterá o seis para o seu amuleto de sorte.

Pronto. Levo a TV de plasma, 32 polegadas. Paguei sessenta por cento de entrada em grana viva e dividi o resto em seis parcelas. Tudo para combinar com o sexa, o sexto caneco do Brasil. O vendedor leu na minha mente que eu fazia qualquer coisa para o sexa e me falou que ia incluir na minha compra um suporte para prender a TV da parede. Ele falou que isso era o must. Não sei o que um must, mas a boca que ele fez para dizer, sei não... se must fosse um doce era mais gostoso do que doce de fio de ovos. Mas o que me convenceu mesmo foi que a prestação, com o valor do suporte, deu exatamente 156. E o vendedor apresentou o número em detalhes de ledor de sorte: Veja só, 156 é 1+5=6 e outro 6: 66. Isso é ou não é um número de sorte pro seu amuleto?

Não hesito. Levo também o treco de pendurar a TV de plasma na parede, porque é um must, porque o valor da prestação cria esse encanto com o número 6.

Chego no meu barraco e vou pregar a TV na parede, no sexto tijolo de baixo pra cima que é também o sexto de cima pra baixo. Não é muita coincidência? Não tenho furadeira mas sou esperto, cabra criado na lida das dificuldades presentes. Com um dos parafusos e meio paralelepípedo, vou brocando os 6 buracos no tijolo vazado, em cima das marcas que eu fiz com os furicos do próprio suporte. Limo os buracos com as roscas do próprio parafuso, ajeito os buracos, enfio as buchas nos buracos. A vizinhança vai se reunindo. Os de perto, os passantes, os de perto dos de perto. Veio gente até da comunidade vizinha do Saci Manco. Meia hora depois parece que eu matei um cabrito em casa e vou dar uma festa. Mas não é nada disso. É só a curiosidade dos vizinhos de ver uma TV de plasmas de 32 polegadas, de onde eu e a vizinhança ia ver o Brasil,sil,sil papar o sexa.

Todo mundo ali e eu ajeitando as coisas, todo exibido. Porque sei ser exibido quando me exibo. Ergo a cabeça, estufo o peito, ficou muito maior do que sou. Fazer charme é com o degas aqui. Juntou tanta gente que até a cartomante ledeira de sorte, a Madame Simônica, mais conhecida com Gipsy-Kenga, apareceu, com seus refolhos de saia e seu cabelos loiro-oxigenado e ficou urubuzando minha TV de plasma 32 polegadas, a minha 3 x 2 = 6. A TV do sexa! Por falar em sexa essa cigana até que dá um bom caldo. Pensei mas não falei nadas. Mas ela escutou meu pensamento. Tenho certeza que escutou pelo jeito que ela me olhou censurando.

Aí, como desculpa de meus maus pensamentos, enquanto ajustava o suporte na parede e a TV no suporte, fui falando pra ela e pra todo mundo que queria me ouvir sobre toda essa minha labuta com número 6. Que era tudo para ajudar o Brasil trazer o caneco do sexa.

Terminei de ajustar a TV no suporte sobre a parede de tijolo furado sem reboco e catei o fio para enfiar na tomada. Antes, enfiei o cabo de 3 pinos no adaptador de 2. (Olha a combinação de novo do 3 com o 2). Levei o braço para enganchar o adaptador na tomada. Um gaiato lá da rua gritou. Segura que tá tombando pra direita. Eu quis dar uma banana pro gaiato mas não deu tempo. Minha TV de plasma, 32 polegadas, para ver o sexa, rumou no chão. Debruço. E quebrou em seis pedaços, como se ela fosse feita de massa de pé-de-moleque.

O pessoal bateu palmas. Onde já se viu aplaudir a queda de uma TV de plasma? Fiquei irado e afugentei todo mundo com um espeto e xingamentos. Mas a Gipsy-Kenga não saiu. Ela me esperou acalmar e me falou que o Brasil, naquela hora, acabava de perder o sexa. Que a queda da TV, quebrando em seis pedaços, era um sortilégio.

Não seria um azarégio, eu disse. Não, meu filho, ela explicou, sortilégio é uma coisa tipo assim: aviso do azar. É um aviso da sorte dizendo que o azar vai dominar a área, tá ligado?

Aí ela destrinchou toda a minha macumba numeral. Disse que o número seis é o número pejorativo da inveja, é o número da oposição do mal ao bem e ao Deus Criador, é o número do pecado, dos deuses da tempestade, de Nero e da besta do apocalipse. E disse mais: Pelo que vejo aqui, o Brasil acaba de perder o sexa. As forças imponderáveis acabam de ponderar em vossa pessoa.

E Gipsy-Kenga fez uns sinais de macumbeira, trançados no ar, e foi saindo, afobada. Como se corresse de alguma coisa terrível, enquanto era tempo. Aí fiquei paradão, com esta cara de Mané, sem coragem de recolher do chão os 6 pedaços do sexa, de minha TV de plasma, de 32 polegadas.

Do sexa que o Brasil tinha acabado de perder.

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